quarta-feira, março 05, 2008

Num banco triste e acompanhado

Sairam os três da loja. Casal à frente, ela meio passo atrás. Desfilavam sofisticados, modernos, invejáveis. A mãe não se preocupava em conter a alvura do sorriso que lhe contrastava a pele, e lhe enchia a face torrada, feliz e ignorante, paralela à do pai fixa em danças no horizonte, de vista quase morta, doente, burlando a massa suada e desatenta com uma banal divagação. Os seus passos mimetizavam o saltitar inocente e puro de uma criança, mas o tom diluído da sua pele denunciava um ligeiro rubor que o cabelo negro e espesso, domado a elástico, descortinava na sua nuca adocicada. O cheiro dela, ainda fresco, transferia-se passivamente na união que o casal celebrava num quente e frio de dedos entrelaçados e distantes.